Transporte e coleta de lixo são principais preocupações a partir de mudança de marco.
Reportagem histórica do jornal O Progresso de Tatuí de 07/05/2016
Cristiano Mota |
Até segunda medição, primeiro marco dividia bairro em dois lados, sendo Tatuí 'do lado de cá da porteira'
A distância percorrida por estudantes que vivem no bairro Jurumirim até a escola deve mudar significativa e definitivamente no ano que vem. Os alunos atendidos por Tatuí precisarão percorrer não 15, mas, aproximadamente, 27 quilômetros se quiserem manter a frequência e concluir os estudos.
Em 2017, crianças, jovens e adultos em fase de aprendizado que residam no bairro terão de se dirigir a Itapetininga. A mudança é uma das muitas as quais os habitantes do Jurumirim terão de incorporar. No mês passado, a Justiça decidiu que o bairro pertence ao município vizinho de Itapetininga.
A sentença, proferida em última instância e anunciada pela Prefeitura de Tatuí neste mês, surpreendeu quem reside na localidade. Caso dos amigos Adriano Aparecido Soares, 31, e Odirlei Jacob, 35, que vivem lá desde criança.
Os dois resistem à ideia de se tornarem oficialmente parte de Itapetininga por uma série de razões. Duas são consideradas principais: o transporte público (tanto para estudantes como para os trabalhadores) e a coleta de lixo.
“A decisão da Justiça muda tudo. O que mais vai atrapalhar é a locomoção”, disse Jacob. “É muito contramão para quem mora aqui. Eu mesmo nem conheço Itapetininga direito. Se eu for para lá, me perco”, completou.
O medo dos moradores é ter dificuldade no momento de resolver questões como pagamento de contas, compras e demais necessidades. Até o fim do ano, o bairro terá transporte garantido por Tatuí, conforme acordo (reportagem nesta edição). “Aqui, existem nove horários de ônibus para Tatuí, fora o escolar, que transporta as crianças para estudo. Para Itapetininga, não tem”, comentou.
Soares declarou que a população local não quer ser incorporada a Itapetininga. A relutância seria por conta de demora da administração vizinha em responder pleitos apresentados pelos moradores.
“A coleta de lixo é precária. Além disso, o prefeito de Itapetininga demorou 40 dias para recuperar uma ponte. Uma pessoa caiu lá. Imagine o que vai acontecer com o lixo”, declarou.
De acordo com o morador, as dificuldades na adaptação vão além da rotina no bairro. Soares contou que teme não conseguir, por exemplo, abrir crediário.
A energia elétrica na casa dele é provida pela CPFL (Companhia Piratininga de Força e Luz) Sul, de Itapetininga. Entretanto, o endereço de correspondência do morador é de Tatuí, o que pode atrapalhar ou gerar confusão.
Para o morador, a decisão judicial também prejudicará os moradores com relação ao futuro. Soares explicou que, em função de não terem sido comunicados por nenhuma autoridade, os residentes não transferiram os títulos de eleitor.
“Em termos de política, vai dar um nó”, disse ele. O entrave é com relação à votação. Os eleitores registrados em Tatuí e que vivem no bairro deverão escolher prefeito, vice-prefeito e vereadores que exercerão mandatos na “Capital da Música”.
Desta maneira, os vencedores do pleito não poderão atender pedidos dos moradores, porque, em 2017, o Jurumirim será incorporado completamente a Itapetininga.
Sem terem votado nos candidatos da cidade à qual voltaram a pertencer, os habitantes temem ficar esquecidos, uma vez que não os elegeram.
“A opinião de todos os moradores é de que o melhor é o bairro pertencer a Tatuí. Todo mundo é a favor de Tatuí, ninguém quer ir para Itapetininga”, asseverou Soares.
Ele alegou que nem os residentes da parte pertencente à cidade vizinha estariam contentes com o atendimento prestado pelo poder público.
A maior queixa é por falta de manutenção. “Temos crianças e pessoas que necessitam de estudos, atendimento médico, não podem ficar sem”, argumentou.
Sem informações oficiais, os moradores também reclamam de eventuais custos com a alteração. Vitório Cardoso, 52, é dono de um bar e disse que, se precisar resolver qualquer questão pessoal em Itapetininga, teria de desembolsar mais dinheiro que o de costume. Ele reside no Jurumirim desde 2001.
No transporte de ida e volta, ele disse que os moradores gastam R$ 6 e têm a opção de retorno em uma hora e meia, no máximo. Para Itapetininga, como o trajeto é mais longo, eles precisariam pagar R$ 11 (uma diferença de R$ 5).
O trajeto teria de ser feito em ônibus intermunicipal, de viação, que não passa pelo bairro. Na volta, os moradores teriam de descer na rodovia Antônio Romano Schincariol (SP-127), no sentido a Tatuí, e atravessá-la. “Quando procuro algo, só vou a Tatuí. Itapetininga, para nós, não dá”, alegou.
Há 30 anos no Jurumirim, Agenor Carlos de Almeida disse que já vivenciou a experiência de estar atrelado a Itapetininga. Ele morou por cinco anos no Morro do Alto, para onde transferiu o título de eleitor, mas retornou por conta de dificuldades em ser atendido em serviços públicos.
“Para nós, não vai prestar ficar em Itapetininga. É transporte, é escola, é tudo que vai dificultar. Eu não tenho criança, mas para quem tem é problema”, disse.
O morador afirmou, ainda, que muitos trabalhadores precisam da facilidade de se locomover para Tatuí por causa dos empregos. Conforme Almeida, mais de 12 pessoas usam coletivos que têm como destino o Mercado Municipal “Nilzo Vanni”.
“Ninguém daqui vai trabalhar em Itapetininga. Aqui não tem ocupação. Então, todo mundo pega a circular das 6h30, que é o primeiro horário”, contou.
Embora exista linha intermunicipal (entre Itapetininga e Tatuí), o morador disse que ela não é satisfatória em horário e se torna inviável em função do custo.
Almeida afirmou que outro transtorno para os residentes são as praças de pedágio. Segundo o morador, quem tem condições de fazer o trajeto até Itapetininga em veículo particular deverá pagar duas tarifas (total de R$ 18,40). Também conforme ele, a isenção vale apenas para moradores “mais antigos”.
Embora sejam atendidos por um posto de saúde mantido por Itapetininga, Almeida afirmou que a população local busca por profissionais e medicamentos na UBS (unidade básica de saúde) do bairro Enxovia. “O povo vai todo para lá, porque gosta e porque consegue ser atendido”, declarou.
Mudança de marco
A mudança do marco divisional entre Tatuí e Itapetininga – que deu ganho de causa para a cidade vizinha, na Justiça – é contestada pelos moradores. “Isso foi um tapa na nossa cara. Do nada, saiu que o bairro não era mais de Tatuí”, disse Adriano Soares.
O morador contou que teve a sensação de dormir em Tatuí e acordar em Itapetininga. Ele disse entender que a decisão não é justa por conta das alterações do limite. “Isso aí (o marco divisional) já foi mudado umas três vezes”, observou.
A primeira divisa passaria por trás da igreja católica do bairro; a segunda, ao lado de um grameiro. A atual foi implantada antes da entrada do Jurumirim. Ela fica próxima ao restaurante de um posto de combustível desativado.
Fora a troca, os moradores reclamam de falta de comunicação. À reportagem de O Progresso, eles declararam que nenhum representante das prefeituras de Itapetininga ou Tatuí conversou com a população.
A maioria disse ter tomado conhecimento por veículos de comunicação, na tarde de terça-feira, 3. No entanto, a decisão em última instância foi divulgada pelo Executivo em abril.
“Se for necessário, vamos fazer um tipo de abaixo-assinado. Podemos pegar os moradores, coletar assinaturas e levar até a Prefeitura”, concluiu Adriano Soares.
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