O G1 acompanhou uma manhã de cliques no Palacete Camilo de Mattos, edifício de 1920, na esquina das ruas Tibiriçá e Duque de Caxias, no Centro de Ribeirão Preto. O prédio foi tombado em 2008 pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Artístico e Cultural de Ribeirão Preto (Conpacc), mas exibe total situação de abandono. Dentro e fora, vestígios da época áurea.
Intitulado "Palácios Cariados", o projeto propõe reunir imagens de imóveis históricos em diferentes cidades do interior de São Paulo. Ribeirão Preto foi escolhida por ser a cidade de origem dos autores. Os demais municípios - São Luiz do Paraitinga (SP), São Vicente (SP), Tatuí e Itapura (SP) - foram selecionados após pesquisa conduzida pela dupla. "São cidades que não têm muita projeção, mas têm grande importância histórica. São Vicente, por exemplo, foi a primeira cidade fundada no Estado. São Luiz do Paraitinga foi praticamente destruída pela enchente. Vamos explorar essas características de cada município", comenta Golfeto.
Além de retratar o abandono dos locais, Anita e Golfeto têm o objetivo de provocar o público com a disposição das fotografias. As imagens da exposição são emolduradas em estruturas antigas, como portas e janelas. "Existem espaços e edificações com esse caráter que permitem que a gente crie essas obras. Tentamos fazer com que essa estrutura de construção seja também o aparato que vai enquadrar a fotografia. Assim, a pessoa não presta atenção só ao conteúdo da foto, mas também à construção em si. Seria o enquadramento do novo com a foto do velho. O mínimo que podemos causar é uma referência de memória daquele espaço construindo um novo, uma contração de tempos", diz o fotógrafo.
Outro diferencial do projeto é montar parte da exposição nos locais onde as fotos foram produzidas. De acordo com Anita, colocar as obras "in loco" resulta numa abrangência maior para a população em geral. "Tem muita gente que não tem o hábito de ir a museus e centros de exposição. Colocando a obra no 'meio do caminho', as pessoas vão passar por ali e ter a atenção chamada para o projeto. É uma provocação para todos, para que a população preste atenção a esses prédios e se mobilize para fazer alguma coisa e mudar isso", diz.
A dupla pretende ainda conscientizar a população da necessidade de tentar reconstruir os espaços abandonados em prol de ações sociais. "O Estado sempre julga que a ideia de conservação é reformar o local não para o uso, mas para que o prédio continue ocupando o espaço como se fosse um monumento. O prédio não precisa voltar a ser a casa do 'barão fulano de tal' e virar um museu. Pode virar um centro cultural, uma biblioteca. O ideal seria reconstituir o espaço, mas tentando dar a ele qualquer tipo de utilidade social. Preservando parte daquilo, mas tendo consciência de que o que foi destruído não vai ser reconstituído nunca", ressalta Golfeto.
Financiamento
Apenas com as obras de Ribeirão Preto finalizadas - os ensaios foram feitos em três casarões-, a dupla busca financiamento coletivo para seguir pelas demais cidades do interior de São Paulo e concluir o projeto. Golfeto e Anita buscam um investimento R$ 25 mil - incluindo as viagens e a produção das obras. "Acho muito mais provocativo a gente perceber e convocar as pessoas a fomentar um projeto desses diretamente do que ficar esperando iniciativas de patrocínio ou de apoio cultural. A princípio, não vamos ganhar nada com isso. Estamos fazendo uma abordagem fotográfico-artística do interesse de todo mundo. É algo histórico e de conservação de patrimônio", conclui Golfeto.
(Foto: Fernanda Testa/G1)
Nenhum comentário:
Postar um comentário