domingo, 17 de agosto de 2014

A PROPÓSITO DAS COISAS DO VENTO

poesia de Odimar Martins









Apoiado nas incertezas
da madeira de seu barco,
o pescador vai além da imagem
que a aparência carrega.
Com as redes na mão, ele faz poesia
sem saber que peixes
são palavras que nadam,
que o tempo e o sol
são rimas feitas pelas
indagações do vento.
Há muitos anos, vento e pescador
sustentam um acordo de procurar respostas.
Quando o mar se agita
e o firmamento silencia,
o pescador, inspirado pelo vento,
oscila na imensa capacidade humana
de formular perguntas.
Isto é o melhor da vida -
morrer na inocência do nada
e aprender vivendo do tudo.
E ao cair da tarde, todas as
cores esperam pelo amanhã
e o mar será apenas uma oração
que todo mundo entende.
E o brilho dos peixes
e as luzes das estrelas
se alternam no destino
de ser alimento dos homens.
E as coisas que não se fundem,
a poesia há de uni-las
pelo encanto adquirido
por outros homens e por outros mares.
Talvez eu seja somente
mais um poeta-pescador
que faz das palavras o seu anzol
e da luz das estrelas, o seu peixe.


3º lugar no Prêmio Paulo Setúbal/Poesia 2014

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