domingo, 2 de dezembro de 2012

Jovem de 18 anos lucra com produção artesanal de viola caipira

Deise VoigtDo G1 Itapetininga e Região

Antonio Donizeti de Oliveira Junior dedica-se à construção de violas desde os 14 anos,
em Cesário Lange (SP). (Foto: Acervo Pessoal)

Aos 18 anos de idade, o luthier Antonio Donizete de Oliveira Junior já se considera um profissional reconhecido no mercado musical pela construção de viola caipira. O jovem, que desenvolve a arte de construção do instrumento desde os 14 anos, já vendeu mais de 30 unidades.

O construtor, que mantém oficina na cidade de Cesário Lange (SP), leva em média três meses para construir uma viola. Os instrumentos fabricados por ele têm preços que variam de R$ 2 mil a R$ 4,5 mil.

Focado no instrumentista profissional, Oliveira Junior afirma que as violas que fabrica são mais delicadas e têm um som mais apurado do que as convencionais. “O valor varia conforme o material utilizado e os detalhes que o violeiro escolhe para o instrumento”, explica ele.

Integrante da Orquestra de Violas de Cesário Lange, Oliveira Junior interessou-se pelo instrumento aos 12 anos de idade, quando ingressou no grupo. Incentivado pelo maestro da orquestra, Ricardo Anastácio, o jovem decidiu usar a habilidade que ele tinha para trabalhar com madeira para fazer instrumentos.

“O maestro conhecia vários luthiers e me deu algumas dicas. Depois, comecei a fazer meus experimentos. Primeiro, desmontei um violão e tentei fazer meu instrumento, não deu certo. Depois, tentei fazer uma viola de cabaça, que também não deu certo”, conta ele.

Foi somente a partir de visitas a outro luthier, André Muraro, em Sorocaba, é que ele começou a desenvolver técnica específica. “Ele me ensinou a parte teórica, mas na prática eu tive que desenvolver tudo sozinho”, diz ele.

Depois de frequentar o curso de luteria do Conservatório de Tatuí (SP) por um ano e meio, Oliveira Junior começou a dedicar tempo ao trabalho. “Deixei o curso há seis meses porque não tinha mais tempo para estudar e trabalhar. Estou consolidando minha carreira como luthier de viola e investindo em oficina, estudo e materiais. Já trabalho profissionalmente”, conta ele.

Com 18 anos de idade, jovem já é considerado profissional no mercado da música.
(Foto: Acervo Pessoal)

O luthier tem expectativas positivas para o mercado. “Estou produzindo a 30ª viola e, no ano que vem, quero fazer pelo menos outras 20”, diz ele.

No Brasil, Oliveira Junior estima que existam cerca de 500 fabricantes de violão. Porém, os profissionais em viola são poucos. “Deve haver, no máximo, uns 30. Tem espaço pra todo mundo porque falta muito profissional na área”, afirma.

A opinião de Oliveira Junior é confirmada pelo maestro Rui Tornezzi, da Orquestra Paulistana de Viola Caipira. “O consumo de viola está crescendo no país devido ao fortalecimento da cultura popular. Precisamos, cada vez mais, de instrumentos de qualidade. As violas de fábrica estão com boa qualidade e os instrumentos fabricados por luthiers mostram a que vieram... São diferenciados tanto no trato com a madeira quanto nos detalhes”, disse ele.

Concurso
Jovem construtor recebeu o primeiro lugar em concurso nacional promovido pelo Conservatório
de Tatuí (SP). (Foto: Manuel Voigt / Divulgação)

O luthier Oliveira Junior venceu a mais recente edição do Concurso Nacional de Luteria “Enzo Bertelli”, promovido pelo Conservatório de Tatuí e voltado a produtores de viola de todo o Brasil. O resultado foi divulgado no dia 11 de novembro.

Pela produção da viola, Oliveira Junior recebeu R$ 7 mil. Mas ele afirma que o prêmio foi difícil de ser conquistado. “Fiz a viola em um mês, mas tive de andar mais de 2 mil quilômetros para concluir o instrumento. Queria os melhores materiais e fui até Americana, Taquarituba, Itaí... tudo para conseguir madeiras especiais. No fim, o prêmio vai compensar os gastos, mas fico feliz pelo reconhecimento profissional, por poder valorizar meu trabalho e ser reconhecido dentro do mercado como vencedor de um concurso nacional”, disse ele.

Jurado do concurso, o maestro Tornezzi mostrou-se surpreso ao descobrir a idade do luthier. “Fiquei surpreso quando soube que a viola vencedora tinha sido feita por um menino... Para mim, o instrumento parece ter sido fruto de um profissional com mais de 40 anos profissão, é um nível muito alto”, afirmou.

O concurso premiou, em segundo lugar, o construtor Vanderlei de Campos (de Tatuí), que recebeu R$ 5.500. Em terceiro, ficou Marcos Roberto Portes (de Santa Bárbara D'Oeste), que foi premiado com R$ 3.500.

Viola
Fabricação de viola exige até três meses.(Foto: Acervo Pessoal)

A viola caipira, ou de dez cordas, é encontrada por todo o Brasil central, especialmente na região do norte de Minas Gerais, interior de São Paulo, Paraná, Goiás e arredores do Distrito Federal, além do Nordeste brasileiro. Em cada região ganha alguma especificidade.

A urbanização da viola, ou seja, a entrada do instrumento nos palcos e auditórios das estações de rádio e televisão, aconteceu pelo trabalho do folclorista Cornélio Pires, de Tietê (SP). Foi ele que, em 1910, organizou um programa de violas no palco da cidade de Tietê e pouco mais tarde, num festival em São Paulo.

A viola caipira é cercada de histórias curiosas e verdadeiros rituais. O maestro Tornezzi afirma que é comum as esposas de violeiros sentirem ciúmes do instrumento. “Violeiro cuida da viola melhor do que a esposa”, brinca ele.

De acordo com ele, viola não pode ser emprestada nem guardada de costas para a parede. E mais: “violeiro que se preza não carrega viola debaixo do braço e sim na mão. Viola é mulher, e quem sai com ela na rua, vai de braço dado”, contou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário