Vera Holtz já foi professora de matemática e hoje é uma das maiores atrizes da dramaturgia brasileira
Texto Núcia Ferreira
Intérprete versátil, Vera Holtz formou-se em artes plásticas e desenho geométrico. Nascida em Tatuí, em 1952, aos 18 anos já dava aulas de matemática em Piracicaba, interior de São Paulo. Mas, seus sonhos iam além do trabalho em sala de aula. Ela largou tudo e mudou-se para a capital para estudar na Escola de Artes Dramáticas da USP. Para se manter, inicialmente trabalhou no Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo – IPT, que a transferiu posteriormente para o Rio de Janeiro, onde desenhava mapas. Apaixonada pelo teatro, não conseguia se ver fazendo outra coisa: “Não tinha outro lugar em que eu queria estar a não ser o palco”, disse. Já na Cidade Maravilhosa, estudou piano e matriculou-se num curso de arte dramática. Após cursar a Escola de Arte Dramática (EAD) e a Escola de Teatro da Uni-Rio, além de outros cursos, Vera estreou profissionalmente em Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho, com direção de José Renato, em 1979. Dois anos depois, passou a integrar o Grupo TAPA, ainda na fase carioca, com o qual realizou diversos espetáculos, entre eles O Anel e a Rosa, de Thakaray. Com inúmeros espetáculos em seu currículo, Vera arrebatou vários prêmios importantes como o Shell e o Mambembe por sua atuação em Pérola, de Mauro Rasi e no infantil Astrofolias. No cinema, a atriz estreou em 1991 no filme Assim Na Terra com no Céu e coleciona mais de 10 longas. Roubando a cena Porém, foi só em 1988, já aos 36 anos que Vera Holtz começou a ser conhecida do grande público estreando na TV. Ela fez sua primeira novela, Que Rei Sou Eu?, de Cassiano Gabus Mendes e não parou mais de ganhar papéis marcantes na telinha. Além de minisséries, ela participou de novelas como Vamp, Fera Ferida, Mulheres Apaixonadas, Belíssima, O Profeta, Paraíso Tropical, Três Irmãs e Passione, sempre com personagens marcantes, que conquistaram o coração do telespectador. Vera Holtz também já se aventurou na música. A atriz, que já fez um curso de piano, diz que “música não é som ambiente, mas, uma grande arte”. Embora não desenvolva, diretamente, trabalhos nessa área, ela se diz emocionada por ser madrinha de uma banda de percussão em São Paulo que integra jovens de 6 a 18 anos.
Mais um papel forte
Em Avenida Brasil, Vera Holtz volta a TV com mais uma personagem coragem. A atriz interpreta Lucinda, uma mulher que trabalha e acolhe crianças no lixão. “Eu já tinha tido uma experiência de como funciona o trabalho no lixão, na época de Passione. Mas, a diferença é que o lixo daquela novela virava arte. Agora é um lixo não tratado. A novela está mostrando a sobrevivência através desse lixo”, define Vera. Na trama, Lucinda é uma mulher generosa, que construiu um lar com restos que pessoas como nós atiram na lixeira todos os dias. Conhecida como a mãe do lixo, ela abriga várias crianças em sua casa. É nesta “república infantil”, que Rita/Nina (Mel Maia/Débora Falabella) recebe cuidados e afeto depois de passar por um grande trauma. É na casa dela, também, que Batata/ Jorginho (Bernardo Simões/Cauã Reymond) conhece o valor de uma família diferente. Apesar do bom relacionamento com as crianças em cena, Vera confessa que não tem muita habilidade com pequenos. “Não tenho experiência com crianças, nunca casei nem tive filhos”, analisa. Os cabelos brancos vão continuar com o novo trabalho. “Estou conseguindo manter essa cor e tenho cuidados especiais, uso xampu específico para cabelos brancos. No caso dessa personagem preciso estar descuidada, por causa do lixão”, conta. Porém, engana-se quem pensa que esse visual é um problema para a atriz, que não se considera muito vaidosa. “Não tenho muita relação com isso, não é um valor para mim, não sei nem falar sobre isso”, disse ela, que usa um figurino com itens reciclados na trama de João Emanuel Carneiro. “Eu gosto de itens reciclados, tenho uma coleção na minha casa do artesão Getúlio de Santa Tereza”.
Além de aparecer na telinha em Avenida Brasil, Vera Holtz brilha nos palcos em Palácio do Fim, ao lado de Camila Morgado e Antônio Petrin. Apesar do sucesso do trabalho, que acabou de ganhar o prêmio APTR de melhor espetáculo e iluminação, além do prêmio Shell de iluminação, a atriz relutou antes de aceitar o convite do diretor José Wilker. Tanta resistência é compreensível quando se conhece a história. No palco, ela revive os horrores da Guerra do Golfo e conta o quanto é doloroso incorporar a personagem, que narra as crueldades da polícia do ditador Saddam Hussein (1937- 2006). “É um texto muito pesado, a minha personagem detalha uma tortura infantil. Eu chorava sem parar toda vez que lia e isso me fazia mal. Não conseguia separar a atriz do ser humano. Então, o Wilker me tranquilizou, disse que até o projeto sair levaria um tempo e eu poderia amadurecer a ideia. No aniversário dele, em agosto, soube que outras colegas haviam sido sondadas. Fui tomada por um ciúme enorme e enfrentei o desafio. Ainda sofro durante o espetáculo, mas, hoje não interessa mais o meu sentimento e sim como ele se reflete para o público”, confessa a atriz.
Com 59 anos, Vera conta que já se apaixonou e namorou inúmeras vezes, mas, confessa que não se apega muito aos relacionamentos. “Nunca pensei que pudesse ficar muito tempo com uma pessoa. Meu compromisso é com a paixão. Já teve namorado me dizendo que queria alguém que lhe desse amor e eu respondia que essa pessoa não seria eu, que não sinto esse amor e só posso dar paixão”, diz a atriz, que aos 12 anos já anunciava que não teria filhos. E, aos que lhe dizem que desse jeito, ela vai acabar sozinha na velhice, Vera também tem a resposta pronta: “Pô, mas eu gosto de brincar sozinha.”
Texto Núcia Ferreira
Vera Holtz
(Foto: Edmilson Saldanha) |
Mais um papel forte
Vera Holtz e Mel Maia
(Foto: TV Globo) |
Desafio nos palcos
Personagens de Vera Holtz
(Fotos: TV Globo) |
“Meu compromisso é com a paixão”
Vera Holtz com a amiga Regina Duarte
(Foto: Divulgação) |
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