Michele Rolim,
JORNAL DO COMÉRCIO
Atriz é destaque em Palácio do fim, peça que emocionou o público na capital paranaense
CURITIBA - O 21º Festival de Curitiba transformou a cidade em um palco a céu aberto. A mostra oficial vem se destacando pela qualidade. Sete dias depois de iniciado o festival, Curitiba já pode dizer que o teatro brasileiro tem uma boa expectativa para 2012. A encenação cariocaPalácio do fim foi uma das mais ovacionadas por um público que lotou o Teatro Bom Jesus, com capacidade para 658 lugares. Os ingressos para a montagem se esgotaram desde os primeiros dias de venda. Com direção de José Wilker e um elenco de peso composto por Vera Holtz, Camila Morgado e Antonio Petrin, a peça merece o convite para participar do 19º Porto Alegre em Cena, em setembro próximo.
O drama, escrito pela canadense Judith Thompson, faz referência à câmara de tortura do ditador Saddam Hussein (1937-2006), no antigo Palácio Real, em Bagdá. Wilker transformou os três monólogos do texto original, inspirado em histórias reais, em várias intervenções intercaladas dos personagens. “Eu não fiz para protestar e sim para homenagear o teatro. O Iraque é apenas um pano de fundo”, contou Wilker.
Vera Holtz está impecável ao interpretar uma militante iraquiana torturada que relata como o filho de 8 anos foi morto e presenciou a mãe ser estuprada aos oito meses de gestação. Não é à tona que seu nome integrou a lista de indicados ao 24º Prêmio Shell de Teatro na categoria Melhor Atriz, ao lado de Wilker na direção, e nas categorias Figurino (Beth Filipecki e Renaldo Machado) e Iluminação (Maneco Quinderé). “Eu estava fazendo mais teatro ligado ao Beckett. Senti a indicação como um puxão de orelhas, dizendo para eu voltar ao espaço cênico”, relatou Vera.
A atriz Camila Morgado interpreta uma oficial norte-americana filmada abusando de presos em Abu Ghraib. Apesar da crueldade do personagem, ela consegue transformá-lo em uma figura de carne e osso que, ao mesmo tempo que humilha outras pessoas, se preocupa com sua aparência. “Ela fez gestos bárbaros, mas também pode ter sido vítima do sistema. Deixo para o público julgá-la”, afirmou Camila.
O cientista inglês que só revela o que sabe sobre a inexistência de armas de destruição de massa quando a guerra já começou é interpretado por Antonio Petrin. Ao relatar um caso de uma garota estuprada, ele se culpa de remorso de não ter contado a verdade antes. E provoca o público em uma de suas falas: “Nós sabíamos e não falamos nada, por quê?”
Existe quase um quarto personagem na trama: a luz. Os atores são emoldurados pela iluminação de Maneco Quinderé: estão dispostos no palco como se estivessem em um tribunal e o público ocupando o papel de júri. Impossível sair ileso do espetáculo que traz à tona um tema tão atual. “O espectador sai se perguntando se fez parte disso. E descobrem no ser humano uma desumanidade”, resume Wilker.
Peculiaridades do Fringe
No Fringe - mostra no qual os grupos recebem espaços mas fazem seu próprio investimento para se apresentar na capital paranaense - acontecem coisas curiosas. Além de muitas peças serem de graça, há também a possibilidade de se ganhar dinheiro. A montagem Para o vampiro - variações nº2 é um exemplo disso. A companhia Marcos Damaceno Cia. de Teatro está tão a fim de mostrar o seu trabalho que paga ao público R$ 4,00 e R$ 2,00 (estudante) para assistir ao espetáculo. A peça conta história de um homem e duas mulheres na eterna agonia da incompletude.
Outro espetáculo que vem chamando a atenção do público é Desvio, da Cia. Numseikitem, encenado na rua, pessoas são abordadas aleatoriamente e convidadas a ingressar no carro que comporta três pessoas por apresentação. A ideia é pegar o espectador de surpresa para ser desviado de seu trajeto, mas surpreso ele fica mesmo ao descer da Kombi, ao final do espetáculo, quando é sugerida uma contribuição voluntária.
Em De la Murcía, a atriz e diretora Daniele Madrid se apresenta dentro de uma carruagem para apenas um espectador solitário.Contada em cinco minutos, a história no estilo lambe-lambe, com manipulação de bonecos, se passa no século XVI. Fala sobre uma garota que pensa em fugir da família.
Há ainda O movimento dos sem ingressos. São pessoas que permanecem em frente ao Memorial de Curitiba recebendo ingressos cortesias para serem trocados ou doados. O movimento, independente, é antigo e participa há mais de dez anos do festival, que neste ano segue até 8 de abril.
JORNAL DO COMÉRCIO
CURITIBA - O 21º Festival de Curitiba transformou a cidade em um palco a céu aberto. A mostra oficial vem se destacando pela qualidade. Sete dias depois de iniciado o festival, Curitiba já pode dizer que o teatro brasileiro tem uma boa expectativa para 2012. A encenação cariocaPalácio do fim foi uma das mais ovacionadas por um público que lotou o Teatro Bom Jesus, com capacidade para 658 lugares. Os ingressos para a montagem se esgotaram desde os primeiros dias de venda. Com direção de José Wilker e um elenco de peso composto por Vera Holtz, Camila Morgado e Antonio Petrin, a peça merece o convite para participar do 19º Porto Alegre em Cena, em setembro próximo.
O drama, escrito pela canadense Judith Thompson, faz referência à câmara de tortura do ditador Saddam Hussein (1937-2006), no antigo Palácio Real, em Bagdá. Wilker transformou os três monólogos do texto original, inspirado em histórias reais, em várias intervenções intercaladas dos personagens. “Eu não fiz para protestar e sim para homenagear o teatro. O Iraque é apenas um pano de fundo”, contou Wilker.
Vera Holtz está impecável ao interpretar uma militante iraquiana torturada que relata como o filho de 8 anos foi morto e presenciou a mãe ser estuprada aos oito meses de gestação. Não é à tona que seu nome integrou a lista de indicados ao 24º Prêmio Shell de Teatro na categoria Melhor Atriz, ao lado de Wilker na direção, e nas categorias Figurino (Beth Filipecki e Renaldo Machado) e Iluminação (Maneco Quinderé). “Eu estava fazendo mais teatro ligado ao Beckett. Senti a indicação como um puxão de orelhas, dizendo para eu voltar ao espaço cênico”, relatou Vera.
A atriz Camila Morgado interpreta uma oficial norte-americana filmada abusando de presos em Abu Ghraib. Apesar da crueldade do personagem, ela consegue transformá-lo em uma figura de carne e osso que, ao mesmo tempo que humilha outras pessoas, se preocupa com sua aparência. “Ela fez gestos bárbaros, mas também pode ter sido vítima do sistema. Deixo para o público julgá-la”, afirmou Camila.
O cientista inglês que só revela o que sabe sobre a inexistência de armas de destruição de massa quando a guerra já começou é interpretado por Antonio Petrin. Ao relatar um caso de uma garota estuprada, ele se culpa de remorso de não ter contado a verdade antes. E provoca o público em uma de suas falas: “Nós sabíamos e não falamos nada, por quê?”
Existe quase um quarto personagem na trama: a luz. Os atores são emoldurados pela iluminação de Maneco Quinderé: estão dispostos no palco como se estivessem em um tribunal e o público ocupando o papel de júri. Impossível sair ileso do espetáculo que traz à tona um tema tão atual. “O espectador sai se perguntando se fez parte disso. E descobrem no ser humano uma desumanidade”, resume Wilker.
Peculiaridades do Fringe
No Fringe - mostra no qual os grupos recebem espaços mas fazem seu próprio investimento para se apresentar na capital paranaense - acontecem coisas curiosas. Além de muitas peças serem de graça, há também a possibilidade de se ganhar dinheiro. A montagem Para o vampiro - variações nº2 é um exemplo disso. A companhia Marcos Damaceno Cia. de Teatro está tão a fim de mostrar o seu trabalho que paga ao público R$ 4,00 e R$ 2,00 (estudante) para assistir ao espetáculo. A peça conta história de um homem e duas mulheres na eterna agonia da incompletude.
Outro espetáculo que vem chamando a atenção do público é Desvio, da Cia. Numseikitem, encenado na rua, pessoas são abordadas aleatoriamente e convidadas a ingressar no carro que comporta três pessoas por apresentação. A ideia é pegar o espectador de surpresa para ser desviado de seu trajeto, mas surpreso ele fica mesmo ao descer da Kombi, ao final do espetáculo, quando é sugerida uma contribuição voluntária.
Em De la Murcía, a atriz e diretora Daniele Madrid se apresenta dentro de uma carruagem para apenas um espectador solitário.Contada em cinco minutos, a história no estilo lambe-lambe, com manipulação de bonecos, se passa no século XVI. Fala sobre uma garota que pensa em fugir da família.
Há ainda O movimento dos sem ingressos. São pessoas que permanecem em frente ao Memorial de Curitiba recebendo ingressos cortesias para serem trocados ou doados. O movimento, independente, é antigo e participa há mais de dez anos do festival, que neste ano segue até 8 de abril.
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