Os planos da importadora de caminhões para Tatuí são ambiciosos, mas estão, conforme o diretor de produtos, João Comelli, na dependência de documentações. “Estamos tendo alguns percalços”, declarou ele à reportagem de O Progresso.
Comelli, que também é sócio do empreendimento, afirmou que a empresa não tem – pelo menos por enquanto – planos de mudar-se para outra cidade, como se havia cogitado, mas admitiu a possibilidade de a Metro-Shacman ter de rever seu projeto original. “Eu tenho um cronograma a cumprir”, justificou. A demora está atrasando a construção da primeira das seis empresas que o grupo representado pelo executivo no Brasil planeja construir no município.
A previsão é de que a unidade em Tatuí fique pronta e comece a operar a partir de janeiro de 2012. Caso isto não aconteça, a Metro-Shacman deve mudar-se para Sorocaba, cidade onde já possui uma área e está montando uma unidade para revenda. “Em Tatuí, a ideia é instalar um centro de distribuição, que é a mãe de todas as demais empresas do grupo”, explicou Comelli.
Apesar dos atrasos, a proposta, segundo ele, não está descartada. “Sou de Tatuí. Não quero levar nada a nenhum lugar. Defendo a causa de Tatuí, apesar de, ultimamente, não estarmos tendo apoio”, afirmou o executivo.
De acordo com ele, mesmo sem ajuda, o escritório da empresa, que funciona em imóvel alugado na avenida Salles Gomes, está trabalhando para que a questão burocrática seja resolvida o “mais breve possível”. “Estou tocando por minha conta. Não vim a Tatuí porque fui convidado. Vim porque quis”, ressaltou.
O projeto de instalação na cidade teve início em setembro do ano passado e, segundo o diretor de produtos, deveria estar “mais adiantado”. “Comecei uma revenda em Santarém, no Pará, que já está mais avançada do que aqui. As coisas por aqui não andaram muito, mas entendo que não é culpa do município, mas do sistema de leis ambientais, que ficou pesado”, argumentou.
Comelli, que é tatuiano, é um dos principais responsáveis pela vinda da Metro-Shacman ao município. O diretor de produtos quer que a matriz da empresa seja instalada na cidade. “Tenho um protocolo de intenções, que prevê que, se em cinco anos nós atingirmos a meta de vendas, vamos começar a fabricar os caminhões aqui, no Brasil. E eu quero puxar a fábrica para cá”, disse.
A intenção seria transformar Tatuí num pólo de desenvolvimento automobilístico. A cidade já contaria, segundo o executivo, com estrutura para que isto fosse possível. “Temos a Ford, além de diversas empresas que prestam serviços para montadoras que podem tornar isso mais do que possível”.
Outro setor beneficiado com o projeto, caso ele venha a se concretizar, é o de formação de mão-de-obra. “Poderíamos exportar trabalhadores, porque temos aqui um conjunto de escolas para formação”, afirmou. As instituições são, principalmente, a Fatec (Faculdade de Tecnologia) “Professor Wilson Roberto Ribeiro de Camargo” e a Etec (Escola Técnica) “Salles Gomes”.
O terreno da Shacman, em Tatuí, fica às margens da rodovia Antônio Romano Schincariol (SP-127). A empresa será “vizinha” da Rontan Eletrometalúrgica e FBA (Fundição Brasileira de Alumínio). “É uma área muito grande e bem localizada”, disse Comelli.
Nela, deve ser instalado o centro de distribuição pelo qual serão importados os caminhões. “Eles vêm da China e têm de ser adequados às normas brasileiras. Tenho que fazer, na verdade, um ‘retrabalho’, com colocação de etiquetas e numeração de chassi, que é preciso fazer com plaquetas”, explicou o diretor de produtos. Após todo esse processo é que os caminhões importados são colocados no mercado.
Também no terreno, o grupo de investidores pretende instalar uma empresa de representação de máquinas de terraplanagem. “Eu queria colocar, lá, a PowerPlus do Brasil”. Na mesma região, ficaria a terceira empresa, a Comex, construtora, e uma quarta, uma transportadora. “O projeto inicial abrange, ao todo, seis empresas”, adiantou Comelli. Contudo, os planos devem ser revistos caso a Metro-Shacman não consiga sanar os problemas de documentação.
Pelo cronograma, o centro de distribuição da empresa já deveria estar sendo construído. “No momento, eu alterei o projeto, alugando alguns galpões e já montando, neles, a estrutura da qual precisamos”, revelou o diretor de produtos.
A medida é considerada preventiva, uma vez que a empresa não deve conseguir cumprir o cronograma. “Fiz isso para adiantar uma situação que poderia acontecer, mas queremos ter prédio próprio”, disse Comelli.
A empresa, segundo ele, dispõe de uma área de 50 mil metros quadrados, ao lado da Toyota, em Sorocaba. “Lá, queremos montar uma revenda e não um centro de distribuição, mas caso o projeto não vingue em Tatuí, poderemos rever a ocupação”, adiantou. “Já andei vendo alguma coisa, porque quem está nesse negócio sempre tem que ter um plano B”, falou o diretor executivo.
No momento, a Metro-Shacman iniciou a limpeza do terreno em Tatuí para dar início à construção. As obras, no entanto, dependem de autorização. O executivo espera ter uma definição (se fica ou não na cidade) no prazo de 40 dias. “Acho que nesse período vamos ter a coisa em andamento, ou termos uma definição. Não sou dono do negócio sozinho, sou acionista minoritário, mas eu continuo em Tatuí até quando puder”, comentou.
A empresa emprega, atualmente, 80 pessoas, mas pretende ampliar o número de colaboradores para 200. “A meta é que tenhamos todo o desenvolvimento do caminhão sendo feito em Tatuí. Daqui a pouco vamos começar a fazer os testes mecânicos”, adiantou.
Os primeiros caminhões importados pela empresa já chegaram ao Brasil. Eles estão no porto de Santos, aguardando liberação. A apresentação dos veículos será feita na 18a Fenatran – Salão Internacional do Transporte, que acontece no Pavilhão de Exposições do Anhembi, em São Paulo. O primeiro lote, já disponível para venda, com 50 caminhões, deve chegar entre os meses de outubro e novembro.
Os planos da Metro-Shacman são de colocar, já a partir do ano que vem, mil caminhões em circulação no Brasil. A projeção de venda representa, conforme Comelli, 1% do mercado de caminhões pesados. No ano seguinte, em 2013, a meta é dobrar o número de vendas. “Quando chegarmos a 2.000 caminhões, queremos começar a montar partes deles em Tatuí”, adiantou. Após cinco anos, em 2017, a expectativa é de que a fabricação seja 90% feita em Tatuí. “Eu quero aqui. A cidade tem chances como todas as outras, mas eu preferia que fosse aqui”, afirmou o diretor de produto.
Além da revenda, a empresa oferecerá serviço de assistência técnica. “Começando as revendas, a manutenção será obrigatória”, destacou o executivo. Para isso, a empresa deverá instituir parceria com a Fatec e a Etec.
A intenção é capacitar os alunos dos cursos técnicos e tecnológicos, das duas instituições, a trabalhar com a marca. “Eu estou tentando trazer algum material para colocar à disposição deles para que possam, desde já, começar a se familiarizar com as nossas peças”, detalhou. O objetivo é, segundo Comelli, transformar a cidade em um “pólo de exportação”.
Para evitar que a empresa vá para outra cidade, o prefeito Luiz Gonzaga Vieira de Camargo afirmou que já colocou à disposição da Metro-Shacman toda a equipe da Sema (Secretaria Municipal do Meio Ambiente). “A missão é dar suporte técnico legal no sentido de auxiliá-los na resolução da questão”, disse o prefeito. O problema da empresa estaria na área adquirida. “Quando eles nos procuraram, já haviam comprado o terreno. A Prefeitura não interveio, em momento algum. Se eles tivessem nos procurado antes, talvez tivéssemos adiantado algumas questões”, afirmou.
Gonzaga declarou ainda que acredita que a empresa, com a ajuda da Sema, possa resolver os problemas técnico-ambientais. “Todas as questões podem ser resolvidas, umas com mais facilidades, outras, com menos. Mas nada impede que eles façam uma compensação ambiental”, declarou.
O prefeito afirmou, também, que apoiará a Metro-Shacman até o “último minuto”. “Vamos lamentar profundamente se a perdermos. Evidentemente, vamos lamentar também por termos perdido um bom tempo com ela”, concluiu.
Transcrito do jornal O Progresso de Tatuí, edição 5537, de 24.07.2011
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