Com as boas cotações, agricultores do Estado deixam de lado lavouras de inverno para plantar o cereal
18 de maio de 2011 | 0h 00Depois de apostar todas as fichas na soja na última safra de verão, na hora de decidir pelo plantio de inverno, a chamada safrinha, o produtor de São Paulo voltou a olhar com atenção para o milho.
Em todo o Estado, a área cultivada com o grão confirmou a previsão de crescimento de 253 mil hectares para 271 mil da safra passada para a atual, um aumento de 7%, conforme dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA-Apta). A safrinha segue na contramão da safra de verão, que registrou queda de 6,3% na área plantada, recuando de 589 mil para 552 mil hectares. De acordo com o IEA, o aumento na área plantada poderia ter sido maior, não fosse o atraso no plantio da soja e na colheita da safra de verão motivado pelas chuvas.
Como a semeadura da safrinha de milho tem como data limite o dia 10 de março, muitos agricultores ficaram impossibilitados de plantar. De acordo com o agrônomo Vandir Daniel da Silva, dirigente regional da secretaria em Itapeva, após esse período o plantio se torna de maior risco porque a fase vegetativa da cultura adentra os meses frios.
"Sempre há risco de geadas a partir de maio." Mesmo assim, motivados pelo bom preço do grão - na sexta-feira, estava em R$ 28,14 para o produtor, segundo o Cepea/Esalq-USP - muitos ampliaram área.
Opção. Apenas na região de Itapeva, segundo Silva, a área cultivada na safrinha subiu de 18 mil hectares em 2010 para 30 mil este ano, aumento de mais de 60%. Para ele, a opção pelo milho se deve também ao baixo preço dos grãos tradicionais de inverno na região, como o trigo e o triticale. "A região é a maior produtora de trigo do Estado, mas o agricultor está desestimulado, depois de quatro anos de safras ruins", disse. No caso do milho, segundo ele, a expectativa é de alta de preço.
No sudoeste paulista, o milho safrinha pode ter o plantio antecipado para dezembro, a partir da primeira semana. Após a colheita entre junho e julho, o agricultor pode plantar o feijão, que tem ciclo curto, na mesma área e colher a tempo de fazer o plantio de verão, a partir de outubro. Com isso, ele consegue três safras cheias na mesma área.
O produtor Eusébio Claro, de Capão Bonito, apressou a colheita da soja para plantar 120 hectares de milho, já na segunda semana de dezembro. A lavoura está com espigas formadas. Ele espera estar com a área livre em julho para plantar feijão na palhada do milho. "O feijão sai em 90 dias, em tempo de fazer a cultura de inverno, que pode ser de milho ou de soja", disse o produtor. Segundo ele, o terreno está numa área pouco atingida pelas geadas.
Ração. Grande produtora de suínos, a Fazenda Alkroma, em Capela do Alto, tem no milho a principal matéria-prima das rações que alimentam o plantel, por isso investe na produção própria do grão.
Numa região de pouca tradição em milho safrinha, a empresa agropecuária foi uma das primeiras a fazer o cultivo de inverno conta o encarregado do plantio, Adilson de Queirós. Este ano, o milharal cobre 310 hectares. Queirós explica que a semeadura foi feita em semanas alternadas para o melhor aproveitamento das áreas. "O talhão plantado na segunda quinzena de fevereiro está soltando espigas. A área de plantio mais recente, do início de abril, ainda tinha plantas pequenas na semana passada."
Milho sobre milho. O engenheiro agrônomo João Batista Xavier Neto, que dá assistência à propriedade, conta que em algumas glebas foi plantado milho sobre milho, ou seja, a semeadura ocorreu logo após a colheita da lavoura anterior, também de milho. Ele disse que a prática, embora não seja das mais recomendáveis, possibilita que a empresa aumente a produção do seu principal insumo. O milho safrinha tem produtividade menor, mas o custo de produção também é mais reduzido, segundo ele. "Na safra de verão conseguimos média de 195 sacas por hectare no sequeiro (sem irrigação), enquanto na safrinha o rendimento é de 145 sacas por hectare."
Xavier Neto conta que a sobreposição do milho, ou seja, o plantio de uma lavoura após a outra do mesmo grão, está se tornando uma prática comum em municípios nos quais a cultura tem muita tradição, como Capela do Alto, Tatuí e Pilar do Sul. Para reduzir o risco de infestações de pragas, os agricultores consorciam a lavoura com plantas de ciclo mais rápido, como a abóbora. Além disso, adotam cuidados especiais com a adubação e a proteção do solo. Ele observou também uma mudança no ciclo de plantio da safrinha, que se encerra, normalmente, no dia 15 de março. Para aproveitar melhor a área, ou motivados apenas pelo balanço das cotações, vários produtores estenderam o plantio até o dia 10 de abril.
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