Do jornal O Progresso de Tatuí, edição de 10.04.2011
Foto: Sítio Santa Rosa
O projeto é realizado pelo Sítio Santa Rosa. São oito índios, entre quatro crianças, que têm a oportunidade de transmitir aos estudantes a cultura na qual vivem. “É um trabalho de resgate da cultura. A tendência é de que as crianças criadas na área urbana se afastem da rural, perdendo o contato com a terra, meio ambiente e natureza”, analisou José Roberto Medeiros, proprietário do sítio.
“Além disso, é um projeto de extensão à escola, uma quebra de preconceitos. Isso também desperta nas crianças outras áreas de conhecimento. Tivemos relatos que um jovem, depois do contato com a natureza, resolveu seguir a profissão de biólogo”.
Um índio, na oca reproduzida no sítio, cantou na língua “mãe”: “Hari Hari Hutaki. Hari Hari Okotoponô. Hari Hari Yapotê (“a bochecha da lua está queimando, a clavícula da lua está queimando. O sol está triste e o tempo está triste”). E o barulho dos chocalhos presos na perna do índio Márcio, na casa cheia de material usado cotidianamente pela cultura indígena, chamou a atenção do grupo de meninos que assistiram à apresentação. “É um ponto positivo. As escolas estão conhecendo nossa cultura, até a nossa língua diferente. Mas, ainda temos bastante caminho a ser conquistado”, disse a índia Eliane Monzilar.
A fala tranquila e clara são reflexos do trabalho que eles desenvolvem na tribo. De acordo com Elaine, a maioria dos que estavam em Tatuí é formada por professores que transmitem seus ensinamentos às crianças indígenas.
A própria Elaine é um exemplo a ser seguido, pois é mestranda da UnB (Universidade de Brasília), no curso de desenvolvimento sustentável. Ela faz parte de um projeto da universidade que abriu as portas acadêmicas para um grupo de aproximadamente 30 índios. Os estudos estão voltados à sustentabilidade nas tribos, uma questão, afirmou a aluna, bastante discutida entre as tribos.
“É uma experiência muito rica, fazemos discussões para manter nossa cultura viva, mas com sustentabilidade. Muitos índios têm terra e não possuem apoio dos governantes. Acredito que falta interesse em ajudar esses povos que realmente precisam. Até hoje existe um impasse burocrático em relação à piscicultura (criação de peixes)”, ressaltou a índia. “Nós, da etnia umutina, temos um projeto em andamento de artesanato. Porém, não temos onde comercializar esses produtos, nem um lugar para transportar e vender”.
A rotina simples de trabalhar na roça, caçar, pescar, cuidar dos filhos e a vida na selva podem também gerar alguns aspectos negativos. “Temos bastante contato com as pessoas da ‘cidade’. Às vezes, alguns nos admiram e outros, nos discriminam. As crianças, por não saberem como a gente vive, vêm com um pensamento de que somos animais, mas temos apenas uma cultura diferente”, desabafou a índia Edlina.
“Isso já mudou bastante, mas ainda existe um olhar genérico e pejorativo. O povo indígena tem uma diversidade muito rica e, quando isso se tornar conhecido, de uma forma geral, vão nos valorizar”, completou a mestranda Eliane.
O projeto que promoveu o encontro com os índios do Mato Grosso é realizado há sete anos. Já participaram do intercâmbio famílias da etnia xavante, do mesmo Estado, no período de 2004 a 2006, e a pataxó, da Bahia, de 2007 e 2010.
A visita propõe a interação através de bate-papo, conhecimento do artesanato indígena, pintura facial, danças, músicas e a utilização de armas para caça, como zarabatana e arco e flecha. “Nós apenas falamos dos índios, mas vivenciar é diferente. O aprendizado com o contato pessoal é mais fácil, as crianças aprendem mais rápido”, contou a professora Estefani Lisboa, de Sorocaba. “Uns alunos se assustam, mas, em geral, todos gostam. Esta é a segunda vez que a gente vem aqui, e a troca de cultura é muito boa”, finalizou.
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