POR HENRIQUE AUTRAN DOURADO
Este título, extraído de um artigo de Olívio Junqueira, ex-prefeito de Tatuí, foi publicado em “O Progresso” de 12 de maio de 1954, e replicava outra matéria, esta assinada por Rubens do Amaral, no jornal “O Tempo”. Ambas versavam sobre a instalação oficial do Conservatório Dramático e Musical em Tatuí, naquele mesmo ano, cumprindo o disposto na emenda (1951) do deputado Narciso Pieroni a um projeto de lei do ano anterior. Rubens do Amaral foi o primeiro diretor do “Diário de São Paulo”. Criado em 1929 sob a égide de Assis Chateaubriand, para fazer sombra ao poderoso “Estadão”, conhecido pelo amparo aos constitucionalistas. Em seu artigo de 9 de março, em “O Tempo” (título: “O Sr. Garcez não cria mesmo juízo”), Amaral se vale da disputa política da época para atacar o governador, que todos os dias 11 de agosto, aniversário de Tatuí, vinha visitar a terra que aprendera a admirar.
O projeto inicial criava duas unidades, em Tatuí e outra em Campinas, mas a lei foi aprovada com a emenda de Pieroni, destinando exclusivamente à terra dos Setúbal a criação da hoje maior escola de música do país. Aprovada pela Assembleia Legislativa, a lei foi sancionada pelo então governador Lucas Nogueira Garcez. Porém, como pano de fundo deste intricado enredo, costurou-se um bordado político de contornos e cores bastante singulares.
Junqueira, em seu artigo, abre e descerra o pano de fundo em defesa de Amaral, a quem ele tinha por ilustre interessado nas benfeitorias à cidade, e creditou a interesses políticos e manobras “eleitoreiras” o ataque à instalação do Conservatório em Tatuí. Ao levar Amaral do papel principal para coadjuvante, vítima de más interpretações, outro jornalista, Maurício Gama, foi alçado a solista. Segundo Junqueira, Gama “sequer teria lido o artigo de Amaral”, e creditou seus ataques na imprensa a “informações (...) deturpadas por pessoas suspeitas (...), levando “o apoio de sua pena brilhante a uma situação indefensável”.
O Brasil - “bonito por natureza”, mas de mentalidade às vezes mentecapta, costuma achar que tudo que é bom deve estar nas capitais, e ao interior devem ser reservados enxada e pasto - concentrou no Rio de Janeiro, enquanto capital do país, a quase totalidade dos equipamentos culturais da União, do Estado e do município. Com a ida da capital para Brasília, em 1960, a cidade guanabarense foi gradativamente perdendo o status de mola-mestra da cultura oficial e passou a dividir com São Paulo o destino da maior parte do que se investia. Para melhor comparar essa política “café com samba” (SP-Rio), cidades alemãs como Baden-Baden (391 mil habitantes, dados recentes), Karlsruhe (400 mil), Leipzig, onde viveu Bach (500), Weimar (64), a Bonn de Beethoven (300) e Mannheim (300) - terra fecunda do classicismo alemão -, agregam grandes investimentos estatais na área da música. O Brasil (“meu Brasil brasileiro”) tem o vício de socar tudo nas capitais, tornando-as insuportáveis: segundo pesquisa da insuspeita revista “Veja”, 57% dos paulistanos, se pudessem, migrariam para o interior (como eu fiz).
Voltando a Tatuí, Garcez manteve o pulso e nomeou diretor do Conservatório, Eulico Mascarenhas Queiroz (março de 1954), nascido em Itapetininga e até então redator musical do Teatro Municipal de São Paulo. Segundo relato do próprio Eulico, em outubro do mesmo ano foram contabilizados 559 candidatos às vagas para alunos, sendo 545 de Tatuí e os 14 restantes de cidades vizinhas.
A inveja e o preconceito armaram as tropas de choque da UDN e do PSD paulistanos da época, e jogou os socialistas no colo do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo (fundado em 1906), onde havia sido diretor um ícone da música brasileira, Mário de Andrade, comunista “de carteirinha”. Do Conservatório paulistano (que nem era do Estado!), eclodiu um protesto contra a escola de Tatuí, com direito a enorme manifesto no “Estadão”, em setembro do mesmo ano. Em vão: prestes a completar 57 anos, o Conservatório é tanto de Tatuí quanto o barro de sua terra, alimento das fornadas de tijolos de suas construções.
“Contra a politicagem, mas não contra Tatuí e seu futuro Conservatório”
Este título, extraído de um artigo de Olívio Junqueira, ex-prefeito de Tatuí, foi publicado em “O Progresso” de 12 de maio de 1954, e replicava outra matéria, esta assinada por Rubens do Amaral, no jornal “O Tempo”. Ambas versavam sobre a instalação oficial do Conservatório Dramático e Musical em Tatuí, naquele mesmo ano, cumprindo o disposto na emenda (1951) do deputado Narciso Pieroni a um projeto de lei do ano anterior. Rubens do Amaral foi o primeiro diretor do “Diário de São Paulo”. Criado em 1929 sob a égide de Assis Chateaubriand, para fazer sombra ao poderoso “Estadão”, conhecido pelo amparo aos constitucionalistas. Em seu artigo de 9 de março, em “O Tempo” (título: “O Sr. Garcez não cria mesmo juízo”), Amaral se vale da disputa política da época para atacar o governador, que todos os dias 11 de agosto, aniversário de Tatuí, vinha visitar a terra que aprendera a admirar.
O projeto inicial criava duas unidades, em Tatuí e outra em Campinas, mas a lei foi aprovada com a emenda de Pieroni, destinando exclusivamente à terra dos Setúbal a criação da hoje maior escola de música do país. Aprovada pela Assembleia Legislativa, a lei foi sancionada pelo então governador Lucas Nogueira Garcez. Porém, como pano de fundo deste intricado enredo, costurou-se um bordado político de contornos e cores bastante singulares.
Junqueira, em seu artigo, abre e descerra o pano de fundo em defesa de Amaral, a quem ele tinha por ilustre interessado nas benfeitorias à cidade, e creditou a interesses políticos e manobras “eleitoreiras” o ataque à instalação do Conservatório em Tatuí. Ao levar Amaral do papel principal para coadjuvante, vítima de más interpretações, outro jornalista, Maurício Gama, foi alçado a solista. Segundo Junqueira, Gama “sequer teria lido o artigo de Amaral”, e creditou seus ataques na imprensa a “informações (...) deturpadas por pessoas suspeitas (...), levando “o apoio de sua pena brilhante a uma situação indefensável”.
O Brasil - “bonito por natureza”, mas de mentalidade às vezes mentecapta, costuma achar que tudo que é bom deve estar nas capitais, e ao interior devem ser reservados enxada e pasto - concentrou no Rio de Janeiro, enquanto capital do país, a quase totalidade dos equipamentos culturais da União, do Estado e do município. Com a ida da capital para Brasília, em 1960, a cidade guanabarense foi gradativamente perdendo o status de mola-mestra da cultura oficial e passou a dividir com São Paulo o destino da maior parte do que se investia. Para melhor comparar essa política “café com samba” (SP-Rio), cidades alemãs como Baden-Baden (391 mil habitantes, dados recentes), Karlsruhe (400 mil), Leipzig, onde viveu Bach (500), Weimar (64), a Bonn de Beethoven (300) e Mannheim (300) - terra fecunda do classicismo alemão -, agregam grandes investimentos estatais na área da música. O Brasil (“meu Brasil brasileiro”) tem o vício de socar tudo nas capitais, tornando-as insuportáveis: segundo pesquisa da insuspeita revista “Veja”, 57% dos paulistanos, se pudessem, migrariam para o interior (como eu fiz).
Voltando a Tatuí, Garcez manteve o pulso e nomeou diretor do Conservatório, Eulico Mascarenhas Queiroz (março de 1954), nascido em Itapetininga e até então redator musical do Teatro Municipal de São Paulo. Segundo relato do próprio Eulico, em outubro do mesmo ano foram contabilizados 559 candidatos às vagas para alunos, sendo 545 de Tatuí e os 14 restantes de cidades vizinhas.
A inveja e o preconceito armaram as tropas de choque da UDN e do PSD paulistanos da época, e jogou os socialistas no colo do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo (fundado em 1906), onde havia sido diretor um ícone da música brasileira, Mário de Andrade, comunista “de carteirinha”. Do Conservatório paulistano (que nem era do Estado!), eclodiu um protesto contra a escola de Tatuí, com direito a enorme manifesto no “Estadão”, em setembro do mesmo ano. Em vão: prestes a completar 57 anos, o Conservatório é tanto de Tatuí quanto o barro de sua terra, alimento das fornadas de tijolos de suas construções.
Transcrito do jornal O Progresso de Tatuí, edição de 10.04.2011
Para ver a matéria no próprio jornal, clique no título
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