Matthew Shirts, que escreve quinzenalmente neste Caderno 2, lança sua primeira compilação
06 de outubro de 2010 | 0h 00
Foto: José Patrício/AE
Raquel Cozer
O Estado de S.Paulo
Na portaria do Estado, o segurança acha graça ao entrever a capa do livro O Jeitinho Americano: "Pensei que de jeitinho só existisse o brasileiro", explica. Fica mais fácil entender o título quando se sabe que o autor é Matthew Shirts, brasilianista nascido na Geórgia em 1958, criado na Califórnia e conhecido por descrever, em textos publicados no Estado desde 1994, suas impressões sobre o País que escolheu para viver ainda nos anos 80.
É que Matthew - ou Matheus, como prefere - tem formação acadêmica sobre estudos brasileiros, mas, ao transportar ideias para o papel, prefere fazê-lo ao estilo dos cronistas que integraram a história da imprensa nacional: contando casos. Assim, o que poderia se tornar uma intransponível argumentação sobre valores caros à cultura local resulta em textos informais como Saudades do Casco, de 2006, no qual o norte-americano analisa a outrora comum exigência brasileira de levar garrafas de vidro vazias ao mercado toda vez que se pretendia comprar cerveja - algo inimaginável nos Estados Unidos. "A formação acadêmica permite meios de analisar isso. De pensar, a partir da exigência do casco retornável, conceitos como status e personalismo. Isso ajuda a escrever, mas é preciso ser claro, e é aí que entra o olhar para como as coisas são."
O exemplo acima figura entre os 99 textos selecionados - dentre mais de 800 - para a primeira compilação de crônicas do brasilianista, que tem lançamento hoje, na Livraria da Vila. Embora São Paulo seja seu lar há metade do tempo que tem de vida - hoje, por coincidência, ele completa 52 anos - e seja também o lugar onde seus filhos foram criados, Shirts acredita nunca ter perdido o olhar estrangeiro fundamental para os textos que escreve. "É uma coisa curiosa. Vim para cá por vontade própria, porque adoro o Brasil, foi uma decisão consciente. Estou aqui há quase 30 anos. Mas ainda sou, no íntimo, gringo. Levo isso comigo até na carteira de identidade. A Polícia Federal me deu nome poético: estrangeiro permanente."
Em várias das crônicas reunidas no volume, Shirts conta experiências de seu primeiro contato com o País, em 1976, quando passou uma temporada de intercâmbio num colégio de freiras em Dourados, no atual Mato Grosso do Sul. Era um momento em que não falava nada de português e em que, na tentativa de emular o comportamento de colegas brasileiros, deu gafes históricas, como cumprimentar a madre superiora com três entusiasmados beijos nas bochechas.
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