Do jornal O Progresso de Tatuí, edição 5.442, de 28.07.2010
Em 2004, Carlos Henrique Moreira de Carvalho assumia a gerência divisional da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) de Tatuí. No mesmo ano, tomava para si um compromisso que extrapolou o campo profissional: virou desafio pessoal. Carvalho queria compensar o passivo ambiental da companhia. Trabalho que, atualmente, seis anos depois, está 66% concluído. Dos 24 hectares que a Sabesp comprometeu-se a reflorestar, 16 já exibem árvores e vegetação em fase adulta. Os outros oito hectares serão recuperados a partir do ano que vem, com o plantio de mais 8.000 mudas de árvores.
Ao todo, a companhia plantou 24 mil mudas de árvores de espécies variadas nas proximidades da barragem do rio Pederneiras, que funciona como reservatório estratégico para Tatuí no caso de baixa no abastecimento de água à população. A barragem, erguida há mais de 20 anos, deixou marcas profundas na região, uma vez que a Sabesp precisou desmatar parte dos 24 alqueires da área, retirar o solo superficial e escavar a terra. A ação, segundo Carvalho, foi necessária para que se pudesse encontrar o solo adequado para ser usado na barragem. Desta maneira, o solo superficial ficou totalmente perdido. É exatamente nessa área que ficam os nutrientes necessários para a fertilização.
Das 24 mil mudas, 20 mil vingaram. O motivo é que o solo da região ficou bastante prejudicado. “O solo é muito árido e, apesar das empresas, contratadas por meio de licitação, darem manutenção por dois anos, sempre há uma perda que gira em torno de 10%”, explicou o gerente divisional. A recuperação da área em Tatuí inclui o passivo ambiental de toda a região atendida pela Sabesp. “Todo o impacto produzido pela companhia na região está sendo trazido para cá”, comentou Carvalho. Conforme ele, com o plantio das 8.000 mudas de árvores restantes, o trabalho de recuperação será concluído.
Apesar do esforço da empresa responsável pelo cuidado com a área, é a própria natureza que está contribuindo para que o trabalho tenha sucesso. De acordo com Carvalho, animais como macacos, pássaros e morcegos estão ajudando na proliferação da vegetação. “Algumas árvores estão começando a germinar por conta de sementes presentes nas fezes dos animais que já estão frequentando o nosso espaço”, contou. O próprio Carvalho disse que já viu, na área, cervos, capivaras e pacas. “Dependendo do dia, é possível ver as marcas deixadas por eles no solo, bem como encontrar vestígios de suas presenças”, afirmou.
Nos seis anos de trabalho, Carvalho encontrou no próprio homem a maior dificuldade para recuperar a área. “Algumas pessoas ainda insistem em usar o local como área de lazer”, afirmou. O resultado é que mudas são arrancadas, ou pisoteadas por gados levados por ruralistas da região para serem alimentados por grama. A própria companhia aciona a Polícia Militar quase todo final de semana. “Não adianta trancar, algumas pessoas não respeitam as placas de proibida a entrada e estouram os cadeados. Hoje mesmo (segunda-feira, à tarde), o portão foi arrebentado”, mostrou ele à reportagem de O Progresso.
A Sabesp também tem dificuldades em manter as árvores intactas com o término do contrato com as empresas responsáveis pelo plantio e manutenção das mudas. “É um trabalho que exige muitos cuidados e, quando as empresas saem, manter as árvores em bom estado para vingar torna-se muito difícil”, comentou.
Apesar dos contratempos, Carvalho afirmou que dois terços da área já foram recuperados. “Com isso, a fauna também está se restabelecendo. Encontramos desde tatus e cobras a tucanos”, afirmou. A presença dos animais, segundo ele, significa que o reflorestamento está dando resultado. Em alguns pontos, por exemplo, é possível encontrar gramíneas e, em outros, folhas - que já garantem umidade ao solo até então árido - e a proliferação de plantas.
Até o momento, a Sabesp investiu mais de R$ 1 milhão na recuperação do passivo ambiental. A companhia deverá, ainda, firmar parceria com o município para a implantação de um canteiro de mudas no Parque Ecológico Municipal “Maria Tuca”. “Ainda não perdi a esperança de realizar esse trabalho. Alguns entraves, neste ano, não permitiram que ele tivesse início, mas quero trabalhar nele, nem que seja quando sair daqui (da gerência da Sabesp)”, concluiu.
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