Na casa do arquiteto Flávio Vila Nova, destacam-se a mistura de materiais e a escada inspirada em Lina Bo Bardi
17 de julho de 2010 | 16h 00
REPORTAGEM Julia Contier / PRODUÇÃO Ângela Caçapava / FOTOS Zeca Wittner
Com pé-direito de 7 metros. A casa tem um grande salão que se abre para o quintal. A mesa de jantar foi feita na marcenaria de Flávio Vila Nova e as cadeiras são da Clami Design
Ela fica no alto de um morro, em um condomínio fechado, e pode ser observada por quem passa perto, nas pacatas ruas de Tatuí, interior de São Paulo. A casa do arquiteto Flávio Vila Nova chama a atenção pela fachada moderna, que foge do tradicional caixote de cimento pintado de branco. De traços retos e assimétricos, a fachada se difere pela mistura de materiais: madeira, vidro, concreto, pedras e tijolos de demolição ajudam a dar o tom da casa.
A princípio, a casa teria, no máximo, 200 m². Mas Flávio não contava que ganharia outro terreno, mais amplo, de presente de casamento, do pai de sua mulher, a jornalista Renata Gallo. Com uma área de 675 m² para construir, os planos teriam de ser mudados. "Não faria sentido ficarmos com uma casa perdida no meio de um terreno grande. A casa, então, ficou com 428 m²", explica Flávio. "Queríamos um grande loft com pé-direito alto onde pudéssemos separar a área íntima da área social e o terreno íngreme contribuiu para esse projeto."
No piso superior fica a suíte, o escritório e uma sala de lareira. No inferior, cozinha, salas de jantar e de TV, quarto da filha e o de hóspedes. "Sei que o quarto dos pais longe do da filha é estranho para muitos, mas para nós funciona superbem. Nosso quarto tem privacidade e com a babá eletrônica monitoramos o que está acontecendo por lá", diz Renata.
Inspiração. Flávio queria uma escada impactante e se inspirou na que a arquiteta Lina Bo Bardi criou para o Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador. "A nossa tem proporções menores, mas também é diferente. Ela é toda de madeira, somente com encaixes, sem nenhum prego. Para não escondê-la e dar segurança, colocamos um guarda-corpo de vidro", diz o arquiteto.
Atrás da escada outro charme: a parede de taipa de pilão. Na cor rosada da terra, as imperfeições e trincas dão um tom rústico a esse canto. Com a chegada da filha, Lorena, de 1 ano, o arquiteto teve de projetar uma portinha para que ela não subisse os degraus vazados, mas a escada não perdeu seu charme. "Usei o mesmo tipo de madeira para manter o padrão", explica.
Flávio criou um eixo de circulação central que percorre toda a extensão da casa, que tem pé-direito de 7 m. "Isso cria uma boa ventilação e dispensa o uso de ar-condicionado", garante. E para aproveitar a forte incidência de sol, ele investiu na instalação de um painel solar. "Foi um custo alto, mas com um retorno rápido e um ganho muito grande. Temos o aquecimento da água garantido com um gasto menor", diz.
Natural. A varanda voltada para o quintal, com piscina. À direita, a fachada da casa, que mistura concreto, tijolo de demolição, madeira, vidro e pedra
Preocupado com a utilização de materiais corretos em seus projetos, Flávio fez questão de usá-los também em sua casa. O piso da sala de lareira, por exemplo, é de assoalho de demolição, assim como os tijolos da fachada. "Aproveitamos o material que sobrou de uma antiga obra", conta.
Também chama atenção na casa o piso da sala, de concreto polido, como os dos postos de gasolina. "Na época da construção, um posto da cidade estava em reforma e contratamos o mesmo fornecedor. Depois, o piso foi impermeabilizado e hoje é mantido com cera líquida incolor. Além de ser econômico, já que é instalado sem contrapiso, é prático, pois pode ser lavado com esguicho.
Dono de uma marcenaria, Flávio fabricou as portas e móveis de madeira da casa. Do que mais gosta é o balcão da sala de jantar, de cerca de 5 metros, feito exatamente para aquele espaço. Para o closet da suíte, usou um antigo projeto feito para uma mostra de arquitetura e decoração. "O projeto já estava pronto, precisei apenas adaptar as medidas."
Ainda com a decoração incompleta, o imóvel é motivo de orgulho para o casal. "A casa é muito grande e por isso estamos decorando aos poucos, mas, como pretendemos morar aqui para sempre, isso não nos preocupa", afirma Flávio.
Transcrito do site estadão.com.br
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